segunda-feira, abril 23, 2007

Como se Portugal inteiro em mim coubesse

Vieram com Lutero os vendilhões do Templo, - e o Sol se cobriu;
Vieram com os Césares os fumos de mandar, - e o Sol se cobriu;
Vieram com Trento os autos de fé, - e o Sol se cobriu;
e nunca mais Portugal foi luz.

Porque, porém, dobrou o joelho, - eis aí a pergunta;
Porque, tão fácil, entregou o guerreiro a sua espada, - eis aí a pergunta;
Porque, tão fácil, renunciou o monge à sua alma, - eis aí a pergunta;
a pergunta que, sem resposta, fez da Nação um luto.

Inês o sabe e não perdoa, - que por ela pecaram portugueses;
Fernando o sabe e não perdoa, - que por ele pecaram portugueses;
África o sabe e não perdoa, - que por ela pecaram portugueses;
curva o remorso as frontes, abate a pena as mentes.

Só pagará a dívida o que em mim for frade, - num só claustro, o mundo;
Só pagará a dívida o que em mim for braço, - de meu irmão ajuda;
Só pagará a dívida o que em mim for nada, - perante um Deus que é tudo;
como se Portugal inteiro em mim coubesse.

in uns poemas de Agostinho ulmeiro