sexta-feira, dezembro 31, 2004
Parabéns, minha Princesa!
minha estrela, minha âncora, meu sol, minha vida, minha chata, minha adorada criatura de Deus, eu amo-te muito
sempre :)
quinta-feira, dezembro 30, 2004
o eco do tempo
sentei-me nas pedras
no meio das oliveiras
a ouvir o eco do tempo
ao longe na serra
uma voz clara e transparente cantava
uma música triste
e lembrei-me dos dias
em que a terra cheirava a hortelã
e o vento a maresia
no meio das oliveiras
a ouvir o eco do tempo
ao longe na serra
uma voz clara e transparente cantava
uma música triste
e lembrei-me dos dias
em que a terra cheirava a hortelã
e o vento a maresia
segunda-feira, dezembro 27, 2004
pulsar
descalcei-me na noite
para sentir o pulsar da terra
fechei os olhos devagar
e acordei
do outro lado do espelho
para sentir o pulsar da terra
fechei os olhos devagar
e acordei
do outro lado do espelho
sexta-feira, dezembro 24, 2004
Sol da Noite
Peregrinos da Estrela Flamejante!
amável é o Sol da Noite
que ilumina o caminho
para o Castelo das Almas.
amável é o Sol da Noite
que ilumina o caminho
para o Castelo das Almas.
Natália Correia
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Ó véspera do prodígio!
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália Correia
Sonetos Românticos
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália Correia
Sonetos Românticos
quarta-feira, dezembro 22, 2004
terça-feira, dezembro 21, 2004
o teu coração é o meu coração
Mãezinha, o teu coração
É o meu coração,
o teu no meu fica apertadinho
Dou-te este cartão com amor e
carinho.
Sara
19 Maio 1985
segunda-feira, dezembro 20, 2004
jardim da sombra
toca-me de mansinho
e leva-me pela mão
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
e leva-me pela mão
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
sábado, dezembro 18, 2004
flores amarelas
trocámos duas flores amarelas
e seguimos lado a lado
com um certo calor no corpo
e frio no rosto
da tarde
trocámos flores amarelas
e um certo calor de mãos
domingo
na praça
e seguimos lado a lado
com um certo calor no corpo
e frio no rosto
da tarde
trocámos flores amarelas
e um certo calor de mãos
domingo
na praça
quarta-feira, dezembro 15, 2004
não me acordes
eu queria dormir acompanhada
daquele amor mais terno e mais sereno
daquele amor sem pingo do veneno
que de ciúme nos traz a vida envenenada
eu queria dormir profundamente
abraçada contigo docemente
como naquela primeira madrugada
oh meu amor, onde andas tu que não te sei
adormecido talvez num outro ombro
tão longe que me deixas tão sozinha
amor, vem ter comigo, a vida é breve
(eu não me esqueço, amor que não se escreve)
e se sonhar contigo for a única maneira
de te trazer para ao pé de mim a noite inteira
então dorme, querido
e não me acordes
porque hoje a noite é minha
não me acordes
daquele amor mais terno e mais sereno
daquele amor sem pingo do veneno
que de ciúme nos traz a vida envenenada
eu queria dormir profundamente
abraçada contigo docemente
como naquela primeira madrugada
oh meu amor, onde andas tu que não te sei
adormecido talvez num outro ombro
tão longe que me deixas tão sozinha
amor, vem ter comigo, a vida é breve
(eu não me esqueço, amor que não se escreve)
e se sonhar contigo for a única maneira
de te trazer para ao pé de mim a noite inteira
então dorme, querido
e não me acordes
porque hoje a noite é minha
não me acordes
segunda-feira, dezembro 13, 2004
Natal
Pim.
Som de cacos verdes. Transparentes.
Sinos de estrelas no ar.
como gaivotas na doca
Gestação. Nascer. Estar.
Amo-te.
Gémeos nascemos. Mas separados.
Beijos de encontro. Enfim, sós!
Natal. Corações quentes.
Solitários.
Sabes, eu gosto de ti.
Vamos ver as luzes.
Vamos para a chuva.
Dezembro, 1972 :)
Som de cacos verdes. Transparentes.
Sinos de estrelas no ar.
como gaivotas na doca
Gestação. Nascer. Estar.
Amo-te.
Gémeos nascemos. Mas separados.
Beijos de encontro. Enfim, sós!
Natal. Corações quentes.
Solitários.
Sabes, eu gosto de ti.
Vamos ver as luzes.
Vamos para a chuva.
Dezembro, 1972 :)
quinta-feira, dezembro 09, 2004
do lado de cá
depois saí para a chuva
sozinha e improvisada
corri perdida de amor
no corpo nos olhos
na noite esquecida do betão
e de mim
desvaneço agora o sorriso e as lágrimas
sou folha no vento, as mãos abandonadas
do lado de cá da vida
sozinha e improvisada
corri perdida de amor
no corpo nos olhos
na noite esquecida do betão
e de mim
desvaneço agora o sorriso e as lágrimas
sou folha no vento, as mãos abandonadas
do lado de cá da vida
sexta-feira, dezembro 03, 2004
terça-feira, novembro 30, 2004
sábado, novembro 27, 2004
o corpo da terra
nos momentos em que o meu corpo é
o corpo da terra
eu queria fazer amor contigo
num fluir universal de raízes
o corpo da terra
eu queria fazer amor contigo
num fluir universal de raízes
quinta-feira, novembro 18, 2004
à flor da água
páro um instante
enquanto a lua sobe
e a noite cresce lenta e segura
páro um instante
e invento o teu perfil
à flor da água nua e murmurante
enquanto a lua sobe
e a noite cresce lenta e segura
páro um instante
e invento o teu perfil
à flor da água nua e murmurante
quarta-feira, novembro 17, 2004
menino perdido
por onde andas tu, menino perdido
por onde andas tu e a tua sombra
a que horas me cruzei contigo na vida?
a que horas te encontras aonde?
demoras tanto tempo a vir
menino pedaço de abismo...
quem terá a sorte do teu calor
quem terá a sorte da tua boca
eu sei lá o que te importa!
sabes que te quero, eu sei que sabes
e mesmo que não venhas nunca mais
não fecho a porta
por onde andas tu e a tua sombra
a que horas me cruzei contigo na vida?
a que horas te encontras aonde?
demoras tanto tempo a vir
menino pedaço de abismo...
quem terá a sorte do teu calor
quem terá a sorte da tua boca
eu sei lá o que te importa!
sabes que te quero, eu sei que sabes
e mesmo que não venhas nunca mais
não fecho a porta
segunda-feira, novembro 15, 2004
quarta-feira, novembro 10, 2004
da noite
murmuras segredos da noite nos olhos
e no toque te sorrio
à procura, sempre
de um banco de areia morna no teu corpo
para deitar o meu cansaço
a pouco e pouco
murmuras segredos da noite nos olhos
e no toque te sorrio
à procura, sempre
do outro lado de mim
além de nós só os pássaros
e o mar ao longe
atormentado
e no toque te sorrio
à procura, sempre
de um banco de areia morna no teu corpo
para deitar o meu cansaço
a pouco e pouco
murmuras segredos da noite nos olhos
e no toque te sorrio
à procura, sempre
do outro lado de mim
além de nós só os pássaros
e o mar ao longe
atormentado
segunda-feira, novembro 08, 2004
e eu não sabia
possível como vento foste tu
e eu não sabia
que são fogo teus inventos
tua ausência
teus momentos controlados
e eu não sabia
que são fogo teus inventos
tua ausência
teus momentos controlados
sexta-feira, novembro 05, 2004
viajar viajar viajar
De vez em quando, assim de repente, tenho saudades,
de ver coisas pelos teus olhos. A estrada, um quarto
de hotel numa vila de província, estrelas numa noite
muito escura. Penso no teu nariz, do qual gosto muito
e não sei onde estará. Em grande parte o nosso des-
tino não somos nós que o fazemos; em grande parte.
Apesar da angústia e da ansiedade, gostava muito de
viajar contigo. É bom viajar contigo. É preciso continuar
a aprender a viajar viajar viajar viajar viajar.
o teu pedro
quarta-feira, novembro 03, 2004
Matisse revisitado
In his final years, Matisse focused on a technique using paper cut-outs. The artist died on November 3, 1954, in Nice.
terça-feira, novembro 02, 2004
segunda-feira, novembro 01, 2004
quarta-feira, outubro 20, 2004
terça-feira, outubro 12, 2004
como vento
suportar a vigília com duas rugas em vez de olhos
levitar pelas calçadas adormecidas
durante as noites que faltam
rangendo musicalmente com um cárcere na memória
e um mar salgado na garganta
quereria abraçar uma viola e torcê-la
para que pingasse um choro furioso
como vento
levitar pelas calçadas adormecidas
durante as noites que faltam
rangendo musicalmente com um cárcere na memória
e um mar salgado na garganta
quereria abraçar uma viola e torcê-la
para que pingasse um choro furioso
como vento
sábado, outubro 09, 2004
terça-feira, outubro 05, 2004
argila
teu corpo argila minha falta
que de nós apenas a ausência
do sopro o pálido gesto
no rio a lívida certeza
que de nós apenas a lembrança
que de nós apenas a ausência
do sopro o pálido gesto
no rio a lívida certeza
que de nós apenas a lembrança
quinta-feira, setembro 30, 2004
sábado, setembro 25, 2004
não me acordes
eu queria dormir acompanhada
daquele amor mais terno e mais sereno
daquele amor sem pingo do veneno
que de ciúme nos traz a vida envenenada
eu queria dormir profundamente
abraçada contigo docemente
como naquela primeira madrugada
oh meu amor, onde andas tu que não te sei
adormecido talvez num outro ombro
tão longe que me deixas tão sozinha
amor, vem ter comigo, a vida é breve
(eu não me esqueço, amor que não se escreve)
e se sonhar contigo for a única maneira
de te trazer para ao pé de mim a noite inteira
então dorme, querido
e não me acordes
porque hoje a noite é minha
não me acordes
daquele amor mais terno e mais sereno
daquele amor sem pingo do veneno
que de ciúme nos traz a vida envenenada
eu queria dormir profundamente
abraçada contigo docemente
como naquela primeira madrugada
oh meu amor, onde andas tu que não te sei
adormecido talvez num outro ombro
tão longe que me deixas tão sozinha
amor, vem ter comigo, a vida é breve
(eu não me esqueço, amor que não se escreve)
e se sonhar contigo for a única maneira
de te trazer para ao pé de mim a noite inteira
então dorme, querido
e não me acordes
porque hoje a noite é minha
não me acordes
quarta-feira, setembro 22, 2004
tudo cá dentro
Olha, quero ir. Quero tudo. Sinto-me escorregar
pela borda da cama, cair até ao fundo do mar,
afogar-me na espuma sádica da lembrança
de uma quinta feira queimada num cigarro
e num copo de Porto. E num corpo de mármore
tremendo no frio, gemendo no calor. Morto, enfim.
Não, não penses que me esqueci. Nadavas. Mentira,
era eu que nadava. Por entre as algas e a nafta
e os peixes mortos boiando na espuma amarela
daquele mar civilizado.
Sem mais nada para escrever, tudo cá dentro.
pela borda da cama, cair até ao fundo do mar,
afogar-me na espuma sádica da lembrança
de uma quinta feira queimada num cigarro
e num copo de Porto. E num corpo de mármore
tremendo no frio, gemendo no calor. Morto, enfim.
Não, não penses que me esqueci. Nadavas. Mentira,
era eu que nadava. Por entre as algas e a nafta
e os peixes mortos boiando na espuma amarela
daquele mar civilizado.
Sem mais nada para escrever, tudo cá dentro.
sexta-feira, setembro 17, 2004
ainda ontem...
Há quanto tempo! Cantámos. Fizemos amor. Os dois. Os vinte.
Tu amas-me? Não, não quero mais vinho. Beijei-te. Eu lembro
-me. Tinhas medo?. Eu tive. Quando o chui chamou o meu nome
e o rádio explodiu. Depois deixaram-nos passar.
E os degraus ainda estão lá, cheios de pó e de pontas de
cigarros afogadas em leite.
Escuta... bate. O meu coração rebentou como uma granada.
Fiquei presa pelos cabelos. E tu dormias. Nu.
Que sede esta me estrangula os olhos e me tira
a serenidade que plantaste em mim, ainda ontem...
Tu amas-me? Não, não quero mais vinho. Beijei-te. Eu lembro
-me. Tinhas medo?. Eu tive. Quando o chui chamou o meu nome
e o rádio explodiu. Depois deixaram-nos passar.
E os degraus ainda estão lá, cheios de pó e de pontas de
cigarros afogadas em leite.
Escuta... bate. O meu coração rebentou como uma granada.
Fiquei presa pelos cabelos. E tu dormias. Nu.
Que sede esta me estrangula os olhos e me tira
a serenidade que plantaste em mim, ainda ontem...
quarta-feira, setembro 15, 2004
sexta-feira, setembro 03, 2004
No quarto da Teresa
Obsessão: as rosas são verdes. Levanta os braços.
Cospe. Musgo negro que pintas o mar. Solavancos
e flores. Morte e café. São horas. A camioneta é
às sete. Podemos entrar? Acendo a luz. Tens um
belo corpo. E visto-me. Querendo agarrar-me aos segundos.
Teu cabelo, teus olhos, tua luva de sal e vodka. Fumo.
Vejo. Mãos mortas, no calor flutuante do quarto da
Teresa. Choras e gemes. Beijo-te. Sorris. Tens medo.
Para quebrar as portas são precisos punhos fortes.
Obsessão: o tempo parou. Falas no sonho.
Queres falar, mas não sabes. Soltas grunhidos
frustrados, lentos demais.
Cospe. Musgo negro que pintas o mar. Solavancos
e flores. Morte e café. São horas. A camioneta é
às sete. Podemos entrar? Acendo a luz. Tens um
belo corpo. E visto-me. Querendo agarrar-me aos segundos.
Teu cabelo, teus olhos, tua luva de sal e vodka. Fumo.
Vejo. Mãos mortas, no calor flutuante do quarto da
Teresa. Choras e gemes. Beijo-te. Sorris. Tens medo.
Para quebrar as portas são precisos punhos fortes.
Obsessão: o tempo parou. Falas no sonho.
Queres falar, mas não sabes. Soltas grunhidos
frustrados, lentos demais.
segunda-feira, agosto 30, 2004
sábado, agosto 28, 2004
luz
agora que o gato dorme aqui na cama ao lado
e o Lennon continua de olhos fechados no poster
Sintra, o sol e tu enchem-me a alma
de azul, de verde e de luz
e espero adormecer já a seguir
contigo e o meu desejo
o meu amor é um anjo
que eu desejo
e que em sonhos eu beijo
na boca
sexta-feira, agosto 27, 2004
Faz hoje um ano
A informática terá razões que a razão desconhece,
porque foi sem tu quereres
que eu fiquei a saber que afinal vocês se amavam.
Faz hoje um ano.
A tontura e a náusea duraram apenas o tempo
em que ainda bate o coração de um guilhotinado.
Foi rápido, obrigada
eficaz, parabéns!
e inesquecível.
“You came along and you cut me loose”, Coldplay
sexta-feira, agosto 20, 2004
"As amigas são umas velhacas"
Se há coisa que me deixa chateada é ser abandonada pelas minhas queridas amigas quando de repente encontram novos namorados.
Nem mais telefonemas nocturnos, nem mais desafios para cinema ou jazz, ou jantares com vinho tinto... Nem sequer mais uma smszita a dizer "Estou viva e bem alimentada! ;) E tu, já desencalhaste?"...
Fico chateada, mas também me sobra mais espaço para aquilo que eu mais gosto de fazer na vida, e que é fazer o menos possível e não ter compromissos que me levem do ninho onde vivo encantada com os meus gatos lindos, o meu silêncio, os meus livros, o meu quintal...
Acontece que duas das minhas amigas mais chegadas resolveram reembarcar em aventuras amorosas (e que Deus lhes dê bom senso e paciência para se livrarem da teia em que se meteram, que eu conheço os dois jeitosos!...).
E vem-me à memória uma frase simplesmente inesquecível, que me foi dita por uma querida professora de música, senhora dos seus oitenta anos bem vividos, quando eu me queixava de uma inconfidência grave cometida por uma das minhas amigas daquele tempo.
Disse-me friamente a professora:
"As amigas são umas velhacas. Conte com a sua mãe, conte comigo, mas não conte com as amigas. As amigas são umas velhacas."
Agora que a minha professora de música e a minha mãe já seguiram o caminho do céu (tenho a certeza!), conto apenas com os meus gatos, o meu silêncio, os meus livros, e o meu quintal.
E sinto-me bem.
:)
Nem mais telefonemas nocturnos, nem mais desafios para cinema ou jazz, ou jantares com vinho tinto... Nem sequer mais uma smszita a dizer "Estou viva e bem alimentada! ;) E tu, já desencalhaste?"...
Fico chateada, mas também me sobra mais espaço para aquilo que eu mais gosto de fazer na vida, e que é fazer o menos possível e não ter compromissos que me levem do ninho onde vivo encantada com os meus gatos lindos, o meu silêncio, os meus livros, o meu quintal...
Acontece que duas das minhas amigas mais chegadas resolveram reembarcar em aventuras amorosas (e que Deus lhes dê bom senso e paciência para se livrarem da teia em que se meteram, que eu conheço os dois jeitosos!...).
E vem-me à memória uma frase simplesmente inesquecível, que me foi dita por uma querida professora de música, senhora dos seus oitenta anos bem vividos, quando eu me queixava de uma inconfidência grave cometida por uma das minhas amigas daquele tempo.
Disse-me friamente a professora:
"As amigas são umas velhacas. Conte com a sua mãe, conte comigo, mas não conte com as amigas. As amigas são umas velhacas."
Agora que a minha professora de música e a minha mãe já seguiram o caminho do céu (tenho a certeza!), conto apenas com os meus gatos, o meu silêncio, os meus livros, e o meu quintal.
E sinto-me bem.
:)
segunda-feira, agosto 02, 2004
António, o Lobo
V: Ainda sonha com a guerra?
ALA: Às vezes tenho um pesadelo tremendo. Sonho que me estão a chamar para voltar para África. Tento explicar que já fui, argumentam que tenho que ir. E o sonho acaba aqui. Nunca sonhei com tiros ou com morteiradas. No meio daquilo tudo havia muito humor. Havia um homem, o Bichezas, que cuidava do morteiro que estava ao pé da messe. Tínhamos mais medo dele do que do MPLA porque o Bichezas disparava com o morteiro na vertical. Aquilo subia... e toda a gente fugia. Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo, havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.
V: Parava a guerra?
ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?
V: Não vou pôr isso na entrevista...
ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?
Excerto da entrevista “António Lobo Antunes íntimo”, in Visão 560
ALA: Às vezes tenho um pesadelo tremendo. Sonho que me estão a chamar para voltar para África. Tento explicar que já fui, argumentam que tenho que ir. E o sonho acaba aqui. Nunca sonhei com tiros ou com morteiradas. No meio daquilo tudo havia muito humor. Havia um homem, o Bichezas, que cuidava do morteiro que estava ao pé da messe. Tínhamos mais medo dele do que do MPLA porque o Bichezas disparava com o morteiro na vertical. Aquilo subia... e toda a gente fugia. Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo, havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.
V: Parava a guerra?
ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?
V: Não vou pôr isso na entrevista...
ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?
Excerto da entrevista “António Lobo Antunes íntimo”, in Visão 560
segunda-feira, julho 26, 2004
A flor que és
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!
Ricardo Reis
domingo, julho 25, 2004
Lisboa à noite
quando à saída do clube da praça da alegria alguém perguntou "vamos até ao mahjong?", resolvi ir com os rapazes e pedi a um deles que levasse o meu carro, que sempre que tenho oportunidade aproveito um motorista
e lá fomos até ao bairro, eles os dois à frente e eu no banco de trás, e na rua da misericórdia havia um lugarito mesmo fixe à espera
a noite continuou, encontrámos mais um ppl bacano, fomos ficando, e tal...
quando os amigos com quem eu tinha saído do clube resolveram vir embora do mahjong e eu queria ficar mais um pouco, um deles pediu-me a chave do meu carro (a guitarra tinha ficado na mala) e eu passei-lha... (só que me esqueci de o avisar de que tinha que desligar o alarme e aquilo começou aos gritos, à uma e meia da matina mesmo ali ao lado do bairro alto, e ele a tirar a guitarra do carro, a fechá-lo sei lá como, e a bazar cheio de nervos com a guitarra... mas isso eu só fiquei a saber no dia seguinte)
fiquei na tertúlia com conhecidos meus do teatro e do cinema, um grupo de actores e técnicos que tinha chegado de um filme na covilhã, se bem me lembro
eram já umas 5 e eu despedi-me para apanhar um taxi, que depois de 3 gins era mesmo o que eu devia fazer: taxi para casa e mainada! pois...
só que mal entrei no taxi deu-me uma veneta de ir buscar o meu carrito e disse "praça da alegria, por favor"
ok, chegámos à dita praça, e, como de repente me dei conta, o meu carro não estava lá... "ops, o carro não está aqui, desculpe" e eu a tentar manter a compostura, e tal, e o taxi driver a responder "não acha melhor seguir para casa?" e eu: "bem... enfim... sim, claro, é mais sensato, pois...”
ok, lá subimos até monsanto e depois até alfragide norte, paguei, agradeci, saí... (isto já eram umas 5 e meia) e comecei a procurar a chave de casa... o taxi driver era um senhor, ou coisa que o valha, e ficou à espera que eu entrasse no prédio, benza-o Deus.. ok... a chave não constava! pois...
e lá voltámos a subir e a descer monsanto, eu à toa, a rezar para que a chave não tivesse ficado perdida algures no bairro... (e o meu kato não tinha a chave de casa)
chegando à rua da misericórdia, já o sol tinha começado a subir no horizonte, ainda foi preciso passar pela praxadela de fazer disparar o alarme, que tinha ficado trocado desde que o nuno lá tinha ido umas horas antes buscar a guitarra
ok, a bendita chave de casa tinha ficado no bolso do casaco que eu tinha deixado no banco de trás do carro, que a noite tava fresquita e eu levei um outro mais quente... com o susto passou-me a moca do gin, claro está... e trouxe o carro para casa, onde o meu kato me recebeu com ternurinhas junho2002
e lá fomos até ao bairro, eles os dois à frente e eu no banco de trás, e na rua da misericórdia havia um lugarito mesmo fixe à espera
a noite continuou, encontrámos mais um ppl bacano, fomos ficando, e tal...
quando os amigos com quem eu tinha saído do clube resolveram vir embora do mahjong e eu queria ficar mais um pouco, um deles pediu-me a chave do meu carro (a guitarra tinha ficado na mala) e eu passei-lha... (só que me esqueci de o avisar de que tinha que desligar o alarme e aquilo começou aos gritos, à uma e meia da matina mesmo ali ao lado do bairro alto, e ele a tirar a guitarra do carro, a fechá-lo sei lá como, e a bazar cheio de nervos com a guitarra... mas isso eu só fiquei a saber no dia seguinte)
fiquei na tertúlia com conhecidos meus do teatro e do cinema, um grupo de actores e técnicos que tinha chegado de um filme na covilhã, se bem me lembro
eram já umas 5 e eu despedi-me para apanhar um taxi, que depois de 3 gins era mesmo o que eu devia fazer: taxi para casa e mainada! pois...
só que mal entrei no taxi deu-me uma veneta de ir buscar o meu carrito e disse "praça da alegria, por favor"
ok, chegámos à dita praça, e, como de repente me dei conta, o meu carro não estava lá... "ops, o carro não está aqui, desculpe" e eu a tentar manter a compostura, e tal, e o taxi driver a responder "não acha melhor seguir para casa?" e eu: "bem... enfim... sim, claro, é mais sensato, pois...”
ok, lá subimos até monsanto e depois até alfragide norte, paguei, agradeci, saí... (isto já eram umas 5 e meia) e comecei a procurar a chave de casa... o taxi driver era um senhor, ou coisa que o valha, e ficou à espera que eu entrasse no prédio, benza-o Deus.. ok... a chave não constava! pois...
e lá voltámos a subir e a descer monsanto, eu à toa, a rezar para que a chave não tivesse ficado perdida algures no bairro... (e o meu kato não tinha a chave de casa)
chegando à rua da misericórdia, já o sol tinha começado a subir no horizonte, ainda foi preciso passar pela praxadela de fazer disparar o alarme, que tinha ficado trocado desde que o nuno lá tinha ido umas horas antes buscar a guitarra
ok, a bendita chave de casa tinha ficado no bolso do casaco que eu tinha deixado no banco de trás do carro, que a noite tava fresquita e eu levei um outro mais quente... com o susto passou-me a moca do gin, claro está... e trouxe o carro para casa, onde o meu kato me recebeu com ternurinhas junho2002
sábado, julho 24, 2004
quinta-feira, julho 15, 2004
sexta-feira, julho 09, 2004
só uma vez
parte comigo
só uma vez
toca-me no ombro
para um passeio de barco sem vento nem sol
num dia cinzento de Verão
chama-me no campo das oliveiras
e das pedras do rio manso
onde embarcámos um dia no silêncio da chuva
parte comigo
só uma vez
só uma vez
toca-me no ombro
para um passeio de barco sem vento nem sol
num dia cinzento de Verão
chama-me no campo das oliveiras
e das pedras do rio manso
onde embarcámos um dia no silêncio da chuva
parte comigo
só uma vez
quarta-feira, julho 07, 2004
Ode ao gato
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, voo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite escura até aos olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
única como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
é firme e subtil como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma única
ranhura
para lançar as moedas da noite.
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no chão,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o mais e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
A minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.
Pablo Neruda
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, voo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite escura até aos olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
única como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
é firme e subtil como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma única
ranhura
para lançar as moedas da noite.
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no chão,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o mais e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
A minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.
Pablo Neruda
terça-feira, julho 06, 2004
madrugada
calmaria de bonança me inunda os braços de mar
já caídos sob a maré vazia do teu corpo
lua cheia numa madrugada suave e límpida
como água corrente
sussurrar de ramos floridos no outono
frases soltas e dispersas, soluçando nesta mesa
de telhas partidas
Ouvi-te. Cantavas no cimo da colina, com um
pássaro poisado no corpo mansamente belo e
transparente.
Queria viver assim, simples, crua, fluida.
Como uma estrela pendurada nos teus cabelos.
já caídos sob a maré vazia do teu corpo
lua cheia numa madrugada suave e límpida
como água corrente
sussurrar de ramos floridos no outono
frases soltas e dispersas, soluçando nesta mesa
de telhas partidas
Ouvi-te. Cantavas no cimo da colina, com um
pássaro poisado no corpo mansamente belo e
transparente.
Queria viver assim, simples, crua, fluida.
Como uma estrela pendurada nos teus cabelos.
quinta-feira, julho 01, 2004
jardim da sombra
toca-me de mansinho
e leva-me pela mão
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
e leva-me pela mão
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
segunda-feira, junho 28, 2004
abraço (morango)
brilhas cá dentro de mim
e eu sinto o teu calor
abraças-me, somos um
e nos teus braços de amor
abandono-me sem ver
que os teus olhos são azuis
e a tua boca o morango
que me apetece comer
e eu sinto o teu calor
abraças-me, somos um
e nos teus braços de amor
abandono-me sem ver
que os teus olhos são azuis
e a tua boca o morango
que me apetece comer
domingo, junho 27, 2004
redondo vocábulo
era um redondo vocábulo
uma soma agreste
revelavam-se ondas
em maninhos dedos
polpas seus cabelos
resíduos de lar
pelos degraus de Laura
a tinta caía no móvel vazio
convocando farpas
chamando o telefone
matando baratas
a fúria crescia
clamando vingança
nos degraus de Laura, no quarto das danças
na rua os meninos brincavam
e Laura na sala de espera
‘inda o ar educa
José Afonso
uma soma agreste
revelavam-se ondas
em maninhos dedos
polpas seus cabelos
resíduos de lar
pelos degraus de Laura
a tinta caía no móvel vazio
convocando farpas
chamando o telefone
matando baratas
a fúria crescia
clamando vingança
nos degraus de Laura, no quarto das danças
na rua os meninos brincavam
e Laura na sala de espera
‘inda o ar educa
José Afonso
Subscrever:
Mensagens (Atom)